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Como identificar depressão nos idosos

Atualizado: 24 de fev. de 2019


Por Bruno Castro*


Muitas pessoas tem dificuldade de identificar se seus familiares estão deprimidos ou se é apenas uma tristeza normal e necessária para superar alguma fase importante da vida.

Isso parece se agravar um pouco mais quando se trata de pessoas idosas, em que a própria idade pode produzir um isolamento e uma postura mais reflexiva.


Nesse post você saberá identificar os sintomas da depressão e fazer a distinção entre uma ocorrência normal de tristeza e um estado depressivo que demanda atitudes e intervenções específicas.



O que é a depressão

A depressão é uma doença psicológica, que de acordo com o DSM IV[1] se caracteriza por pelo menos cinco das características seguintes: um humor deprimido (a pessoa fica triste por um período muito longo de tempo, por coisas ou acontecimentos que a maioria não considera suficiente para um entristecimento intenso), diminuição do interesse nas coisas, perda de peso, insônia, perda de energia, diminuição da capacidade de concentração e até um desejo de morte por pelo menos seis meses.


De acordo com o CID 10[2], tais sintomas são parecidos, sendo acrescentados de ideias de culpa e inutilidade, visões desoladas e pessimistas do futuro, além de cansaço após esforços leves. Essas características se mantem praticamente iguais no DSM V[3], só mudando algumas características que descrevem a sua gravidade.


Outros autores[4] descrevem um fenômeno centrado na letargia, no qual a percepção das cores pode esmaecer para cores mais escuras, os sons podendo ficar amortecidos. Os movimentos corporais podem ficar pesados e o corpo pode entrar em um processo de insensibilização. Nesse sentido, podem ser expressas queixas como uma grande opressão no tórax, pesadelos, dores de cabeça, distúrbios do sono e da potencia sexual.


A depressão nos idosos

É interessante que em todos os manuais citados acima, a depressão aparece com maior risco entre as pessoas acima de 50 anos e especialmente em idosos, idade em que a depressão é retratada como mais persistente, em diversos casos.



Essas características colaboram para que 22% da população idosa apresente sintomas depressivos[5], sendo que 1% desses apresenta sintomas de Depressão Maior e 4% transtornos de ajustamento com depressão. Um estudo[6] realizado Espanha com 3.715 idosos da cidade de Zaragoza apontou que 25,8% dos idosos pesquisados consomem psicotrópicos, e 18,1% por certo destes últimos consumiam mais de um psicotrópico. Na mesma pesquisa encontrou-se que 12,9% desta amostra foi diagnosticada com Depressão, enquanto que 12,9% tinham subcasos de depressão, 16,5% tinham subcasos de ansiedade e 36% de insônia.


o conhecimento do idoso passou a ser menos aproveitado, diante da grande necessidade de renovação e atualização do conhecimento contemporâneo. Nesse percurso, o conhecimento profissional do jovem passou a ser mais aproveitado e o status quo dos idosos nas firmas diminuiu bastante

Alguns dos fatores ligados[7] a essa aparição maior nos idosos são os ciclos de carreiras planejadas, no qual o idoso é invariavelmente ligado a aposentadoria e ao declínio da vida ativa. Nesse sentido, o conhecimento do idoso passou a ser menos aproveitado, diante da grande necessidade de renovação e atualização do conhecimento contemporâneo. Nesse percurso, o conhecimento profissional do jovem passou a ser mais aproveitado e o status quo dos idosos nas firmas diminuiu bastante. Além disso, o individualismo moderno fragmentou os ciclos familiares, as tradições familiares e profissionais e todo o simbolismo advindo dessas relações, esvaziando as relações existentes por meio de relações impessoais que buscam o sucesso individual. Nesse caminho, todos aqueles que não podem produzir para o sistema e buscar a sua autonomia individual são isolados e vistos como um fardo para o sistema produtivo como tal. Nessa perspectiva, tais valores ligados a sociedade atual estariam corroborando para um aumento dos casos de depressão na atualidade, pois as pessoas e em especial os idosos que não se incluem nesse quadro de valores contemporâneos, se sentiriam mais deprimidos. Além disso, o grande uso de psicotrópicos e a grande inclusão de sintomas que não estavam relacionados a depressão ajuda a aumentar o número de casos em que ela é detectada e diminuir os prognósticos do tratamento.


O que fazer quando o idoso deprime

Uma das perspectivas de solução desse quadro é a melhora do suporte social[8] a esse idoso. Nessa perspectiva, o suporte é diferenciado em diversos âmbitos entre o suporte instrumental e o suporte emocional.


é importante que o idoso pense dentro de uma perspectiva cíclica, que valorize os laços familiares e de tradição e como parte de um movimento eterno de descendentes.

Enquanto o suporte instrumental diz respeito ao nível de ajuda em atividades diárias do cotidiano, o suporte emocional diz respeito a ter pessoas de confianças e confidentes. O suporte instrumental é visto como necessário ter, mas que pode levar a sentimentos negativos de dependência, ao passo que o suporte emocional é ligado a sentimentos positivos. O mais importante é o idoso ter a ciência de possuir tais suportes, mas não precisar utilizá-los.


Em outra perspectiva[9], é importante que o idoso pense dentro de uma perspectiva cíclica, que valorize os laços familiares e de tradição e como parte de um movimento eterno de descendentes. A adoção de tais atitudes fará com que o idoso tenha sempre um papel histórico, cultural e familiar bem definido e seja sempre valorizado por ser o detentor dessa tradição, contribuindo para a diminuição de ocorrência de casos de depressão.


 

Bruno Castro - é psicólogo formado pela UNIFOR - Universidade de Fortaleza, Mestre em estudo dos idosos pela UNIFOR, Gestalt-terapeuta pelo IGC - Instituto Gestalt do Ceará, Coordenador do Curso de Formação em Psicogerontologia Social, do mesmo instituto, atuando com psicoterapia de adultos e idosos, em consultório particular.

*Bruno Castro

É psicólogo formado pela UNIFOR - Universidade de Fortaleza, Mestre em estudo dos idosos pela UNIFOR, Gestalt-terapeuta pelo IGC - Instituto Gestalt do Ceará, Coordenador do Curso de Formação em Psicogerontologia Social, do mesmo instituto, atuando com psicoterapia de adultos e idosos, em consultório particular.





Notas

[1] Citamos aqui o Transtorno depressivo maior, que compreende um ou mais episódios depressivos em um intervalo de pelo menos duas semanas. American Psychiatric Association. (2002). DSM-IV-TR. Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Lisboa.


[2] Citamos aqui o Transtorno depressivo recorrente, que engloba a repetição de episódios depressivos que tendem a durar de 3 a 12 meses, com média de seis meses. Organizaçao Mundial da Saúde. (1993). Cid 10 - Classificação De Transtornos Mentais E De Comportamento (Vol. 13). Porto Alegre: Artmed.


[3] Como no DSM IV, citamos também o Transtorno depressivo maior, que obedece a maior parte das descrições do DSM IV. American Psychiatry Association Apa. (2013). DSM-V-TR - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed. https://doi.org/1011769780890425596


[4] Berlinck, M., & Fédida, P. (2000). A clínica da depressão: questões atuais. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 3(2), 9–25. Retrieved from http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/revistas/volume03/n2/a_clinica_da_depressao_questoes_atuais.pdf


[5] Alexodopoulos Apud Bastos, C. L. (2006). Tempo , idade e cultura : uma contribuição à psicopatologia da depressão no idoso . Parte III : A depressão , o tempo e a cultura. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(2), 300–317.


[6] Fomento, A. H., Saz Muñoz, P., Lobo Satué, A., Ventura Faci, T., De La Cámara Izquierdo, C., & Marcos Aragüés, G. (2010). Relación entre el consumo de ansiolíticos y antidepresivos y la sintomatología psiquiátrica en ancianos. Revista Espanola de Geriatria y Gerontologia, 45(1), 10–14. https://doi.org/10.1016/j.regg.2009.09.003


[7] Bastos, C. L. (2006). Tempo , idade e cultura : uma contribuição à psicopatologia da depressão no idoso . Parte III : A depressão , o tempo e a cultura. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(2), 300


[8] Batistoni, S. S. T., Neri, A. L., & Cupertino, A. P. (2010). Sintomatologia depressiva e suporte social na velhice. In D. V. da S. Falcão & L. F. Araújo (Eds.), Idosos e saúde mental (pp. 53–70). Campinas: Papiros.


[9] Bastos, C. L. (2006). Tempo , idade e cultura : uma contribuição à psicopatologia da depressão no idoso . Parte III : A depressão , o tempo e a cultura. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 9(2), 300

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Carlos Gucci
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