*Por Silverio Karwowski
Como eu já havia afirmado no post anterior, o planejamento da clínica é fundamental para o profissional atingir aquilo que imagina como sendo uma prática satisfatória. Citei seis vantagens desse planejamento, indicando como as pessoas que efetivamente alcançam o sucesso em suas profissões, com certeza fazem e seguem um bom plano, seja ele claro e delimitado ou intuitivo e difuso. No entanto, quanto maior a clareza desse plano, maior será a possibilidade de avaliar o passo-a-passo e corrigir os rumos estabelecidos.
Nesse post
Nesse post falarei dos procedimentos necessários para você realizar um bom plano para sua clínica ou para sua carreira como clínico. Tratarei especificamente das atitudes (um amálgama de pensamento, sentimento e ação) e de algumas ações específicas para um planejamento consistente e bem estabelecido.
Atitudes necessárias para um bom planejamento
As atitudes necessárias implicam em você estar ciente que terá que adotar uma mudança perceptiva que estará totalmente relacionada a sentimentos diferentes que levarão você a mudar o modo de agir diante de diversas situações. A mudança de comportamento é inerente à mudança de sentimento e percepção, mesmo que você não se dê conta disso. O importante é saber que uma implicará nas outras e vice-versa, e o mais importante: você precisa começar.
Acredite que é possível
Existe uma frase da autoria de Jean Cocteau de extrema importância para aqueles que querem realizar seus sonhos: “Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.”
Isso exprime o fato de que muitas vezes nos apegamos a uma sensação de impossibilidade, às vezes com origem em nossa própria história, às vezes em uma impressão geral, às vezes em um pessimismo reinante que nos impede de acreditar na possibilidade das coisas e, portanto, de lutar para realizá-las. Conheço uma quantidade muito grande de pessoas que não acreditou que seus sonhos eram possíveis de serem realizados. Não tentaram. E acabaram por cumprir o seu próprio pensamento de impossibilidade.
Evidentemente, essa possibilidade se fará não apenas pela crença nela mesma, mas também pela adoção de uma série de ações necessárias para se atingi-la. Ainda assim, realizar as necessidades e desejos em sua carreira vai depender também de você entender que, apesar da concorrência, apesar de uma cultura desfavorável, apesar de tempos econômicos difíceis, e até mesmo apesar de mudanças políticas importantes… é possível. e você precisa acreditar nessa possibilidade.
Identifique onde quer chegar
Um dos aspectos mais importantes para um planejar bem é saber o que se pretende com o plano. Em outras palavras, qual é o seu objetivo.
Se estamos considerando que você deseja ter sucesso na clínica, então é necessário delimitar os indicadores que apontam quando o objetivo foi atingido. Isso implica em estabelecer: o número de clientes (por semana) almejado, a quantidade de horas dedicadas ao consultório, o valor cobrado por sessão e o faturamento pretendido, a projeção profissional (social e científica) pretendida, e assim por diante.
Muito importante salientar nesse momento, que suas metas precisam ser realistas em relação ao tempo. Por exemplo, não adianta almejar um faturamento no início de carreira que os profissionais sabidamente só atingem em dez anos de atuação. No entanto, trabalhar para diminuir esse tempo o máximo possível, de forma calculada e programada, pode ser um objetivo importante.
Saiba em que você é bom e em que não é
Na linha do que eu já havia afirmado no post anterior, sobre o autoconhecimento propiciado pelo planejamento é muito importante saber quais são os aspectos profissionais que você tem um bom domínio e quais você não tem.
É muito importante lembrar que ninguém é bom em tudo, assim como também ninguém é ruim em tudo. Considerando que você passou ou está passando por uma faculdade, desenvolveu ou está desenvolvendo habilidades importantes e suficientes para o exercício da clínica, conhecendo em mais profundidade as dimensões da atuação em psicoterapia, você poderá descobrir que características você exerce com habilidade e quais você precisa aprimorar e melhorar.
Em meu curso de Psicologia Clínica na Prática costumo dividir a atuação clínica em três dimensões: técnica, legal e mercadológica. Essas dimensões estão, evidentemente, imbricadas e não podem ser simplesmente separadas. Nada adianta o desenvolvimento em uma delas e a desconsideração das outras, pois isso levaria a uma visão parcial do processo e a não obtenção dos resultados desejados.
A dimensão técnica diz respeito ao domínio do conhecimento de psicoterapia de acordo com a abordagem que você escolheu, ao desenvolvimento das características necessárias para ser psicoterapeuta e às habilidades práticas dessa ordem. A dimensão legal se refere à interação com órgãos de classe, com impostos e taxas necessárias e ao discernimento de como lidar com essas obrigações ao longo da carreira. A dimensão mercadológica, aquela que a maioria dos clínicos não é preparada para exercer, implica na divulgação do trabalho do clínico, na captação de clientes, no estabelecimento de honorários e na manutenção dos clientes em tratamento, dentre outros fatores.
Posso mencionar uma quarta dimensão, a da interação ou dinâmica entre os aspectos técnicos, legais e mercadológicos. Muitos profissionais acabam aprendendo essa dinâmica através da experiência, e portanto do erro e acerto, levando muito tempo para entender como se estabelecem, e também perdendo muitos clientes e dinheiro até o exercerem com habilidade, ou então permanecem em um trabalho aquém do rendimento desejado.
Sendo assim, identifique as dimensões onde lhe falta o desenvolvimento e dentro dessas dimensões perceba em qual é bom e em qual não é. Aprimore suas características positivas, desenvolva-se naquilo que ainda precisa.
Consulte outras pessoas
Um dos fatores que ajuda a acertar no planejamento é ir em busca de pessoas que o fizeram com habilidade ou que conhecem bastante a respeito. Peça conselho e orientação, pois elas podem lhe auxiliar a desenvolver um bom plano ou a encontrar um sistema que melhor se adeque a você, inclusive dando dicas de aspectos que funcionaram para elas e aspectos que não funcionaram.
Uma maneira eficiente de também fazer essa consulta é participar de cursos, de seminários e treinamentos com pessoas experientes, que atuam especificamente na área que você quer atuar e, principalmente, são reconhecidas no mercado por sua atuação profissional, não apenas pelos conselhos e orientações que dão em seus cursos.
Lembre-se de poder falar com pessoas que lhe auxiliarão a corrigir seus rumos quando necessário, sejam através de cursos formais, consultorias ou supervisão.
Evite generalizações e polaridades
Quando não se tem habilidade em planejar, as pessoas acabam acreditando que devem seguir o plano exatamente como foi idealizado e se isso não acontecer, o plano não valeu de nada, não vale a pena planejar, pois ele não acontece como esperado e assim por diante. Não é raro encontrar pessoas que também diminuem a si mesmas por acharem que o plano é inútil e não poderá ser executado. Quando uma parte de algo é ruim, isso significa que aquela parte apenas é ruim, não a coisa toda. Essa parte deve apenas ser aprimorada e incorporada.
Seja persistente
Não existe uma frase que melhor ilustra a persistência que “eu sou brasileiro e não desisto nunca”. Para além de qualquer jargão popular é importante saber que a manutenção do foco e a concentração se constituem em fatores fundamentais para alcançar resultados. Esses são elementos que distinguem as pessoas que conseguem das pessoas que não conseguem.
Em muitas ocasiões você certamente enfrentará obstáculos, aqueles que estão previstos em seu planejamento e muitos, talvez não previstos. Não deixar que esses obstáculos ou mesmo que derrotas o impeçam de prosseguir será uma das principais atitudes que você precisará cultivar.
Lembre-se de pessoas resilientes, de outras que insistiram em projetos e sonhos ditos impossíveis e que realizaram o pretendido. Lembre-se delas a cada etapa de seu projeto: do plano à sua execução final.
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Construa o seu plano
Um plano nada mais é que o estabelecimento de objetivos, a delimitação dos recursos necessários para alcançá-los, a descrição do passo-a-passo para alcançar os recursos, atingir as metas e, por fim, terminar o plano como um todo.
Você já sabe onde quer chegar, conhece suficientemente suas características e as características que precisa desenvolver para atingir os resultados que deseja, ouviu outras pessoas sobre o processo que pretende executar. Está na hora de fazer o seu próprio plano, a fim de alcançar o tão sonhado sucesso na profissão.
Elabore um programa
O programa implica numa descrição detalhada do que precisa fazer, em relação a cada um dos itens que você estabeleceu em seus objetivos.
"Por exemplo, se um dos seus objetivos é aumentar o número de clientes, seu alcance implica em um conjuntos de ações que passam por ser identificado como conhecedor de determinado problema e das formas de sua resolução, divulgar seu trabalho nos locais certos, estabelecer honorários adequados a sua clientela, cuidar do ambiente em que você trabalha, dentre outros fatores."
Para atingir o primeiro item, ser identificado como conhecedor de um problema, você precisa delimitar a temática que pretende conhecer (e que seja de fato relevante), os cursos e treinamentos que precisa participar, e os modos de atuação para aprimorar sua prática. O programa para esse item poderia ser: no próximo ano - participar do curso x no primeiro semestre, participar do treinamento y, no segundo. Concomitante a isso, realizar trabalho voluntário na instituição z uma vez por semana, para aprimorar a prática nessa atividade.
Ações semelhantes precisam ser levadas adiante nos outros itens delimitados.
Não se assuste com o volume de trabalho, pois resultados importantes dependem de esforços consideráveis, e você não quer fazer um plano para obter resultados insatisfatórios. Lembre-se também de o máximo que conseguir, sempre escrever todos os seus procedimentos. A escrita ajuda não apenas na sistematização do pensamento, mas também na consulta quando necessário, na identificação de aspectos a serem melhorados e no registro do cumprimento de etapas. Com certeza esse não é um trabalho perdido.
Delimite os valores necessários
Depois que você tiver elaborado seu programa, é necessário estabelecer a ordem de prioridade, ou seja, o que deve ser executado primeiro, o que em segundo lugar, em terceiro e assim por diante. Identifique qual dessas etapas precisará de recursos financeiros, verifique seu orçamento e, caso não esteja adequado, programe novas fontes de recursos financeiros. Essas fontes podem ser o auxílio de um familiar, um financiamento calculado, uma trabalho extra, uma poupança programada, ou ainda outros modos de obtenção de recursos que você encontrará através de sua reflexão.
Não deixe de executar seu plano por descobrir ser necessário realizar um curso para o qual você não tem orçamento. Identifique possíveis formas de obtenção desse recurso, em quanto tempo poderá obtê-los e prepare-se para sua realização. Afinal, se as coisas estivessem prontas, não precisaríamos nem planejar, nem nos preparar para elas.
*Silverio Karwowski é psicólogo e licenciado em psicologia, mestre em psicologia clínica, psicoterapeuta e especialista em Gestalt-terapia.
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